Em Sintra, milhares de portugueses, animados pela contemplação diária do mar e da serra, experimentaram a aeronáutica ao servir na Força Aérea. Muitos fizeram ali a sua carreira militar, adquirindo uma especialização ou competências de comando únicas. Alguns, como tripulantes, alçaram voo, concretizando o sonho de voar.
Esta emissão selo, datada de 12 de outubro de 2020, assinala o centenário do início do primeiro curso de pilotagem na Granja do Marquês. A partir de 20 de fevereiro de 1920, a Escola de Aviação Militar, transferida de Vila Nova da Rainha, preparou-se para reavivar a nobre atividade da instrução de voo.
A Escola de Aviação Militar pôde assim evoluir, organizacional e estruturalmente, e passou a ter uma série de denominações diferentes, de acordo com os diversos aspetos que a caracterizaram ao longo de um século. Em 1939, em resultado da reorganização da Força Aérea, passou a chamar-se Base Aérea n.º 1 e continuou a acolher, sentimental e profissionalmente, todos os “aviadores” das várias especialidades.
A Escola combinava experiência, conhecimento e know-how aeronáutico em suas múltiplas facetas, contribuindo para a formação dos primeiros pilotos civis em Portugal e representando uma mais-valia para a Aeronáutica Militar na sua transformação em Força Aérea Portuguesa, em 1952.
A pequena pista inicial, de apenas 400 metros de comprimento em 1920, foi ampliada e, no final da década de 1930, estava sendo usada como Aeroporto Internacional de Lisboa. A partir da década de 1960, evoluiu para uma infraestrutura aeronáutica excepcional na qual aviões a jato modernos foram usados para instrução de pilotos.
Ao longo de mais de 100 anos, a Granja do Marquês acompanhou os desenvolvimentos prodigiosos da aviação, tornando-se um ponto de referência em termos da especificidade de sua instrução e ensino, operações e patrimônio. Mais adiante, na sequência da reformulação da estratégia nacional durante a década de 1970, a evolução técnica e tecnológica, a aquisição e utilização de novas capacidades, bem como a necessidade de aumentar e aprofundar o conhecimento aeronáutico numa abordagem transversal ao papel da Autoridade Aérea, levaram a que se concentrasse, na Granja do Marquês, áreas de inovação relacionadas com o ensino e a formação militar de pessoal, através da criação do Instituto de Estudos Superiores e da Academia da Força Aérea.
A atividade aérea operacional esteve na vanguarda durante os desafiadores anos 30 e 40, com a atribuição, ainda que por apenas alguns anos, de modernos bombardeiros noturnos e de um esquadrão de caças, mantendo-se também as responsabilidades no contexto da formação elementar, básica e avançada de pilotos. Mais tarde, missões como o transporte de VIPs ou o reconhecimento e pesquisa de recursos naturais, entre outras, foram atribuídas à Unidade.
O património histórico e edificado desta Unidade da Força Aérea inclui o Palácio, a Capela e os antigos edifícios, que se tornaram um ícone da Força Aérea Portuguesa. O Palácio, adquirido pelos descendentes do Marquês de Pombal, é uma típica casa senhorial do século XVIII, sucessivamente ampliada para satisfazer requisitos funcionais, mas sempre respeitando a arquitetura original.
Paralelamente, o desenvolvimento da coleção aeronáutica mantida na Unidade e a necessidade de criar novos espaços museológicos levaram à extensão, em 2011, das instalações do Museu do Ar, que inclui as principais coleções da Força Aérea Portuguesa, bem como uma componente de aviação civil.
A Granja do Marquês, com o seu nobre passado e honrosa atividade, é um exemplo irrefutável de património imaterial, pela sua riqueza de princípios e cadeia de valor, os padrões referenciais que caracterizam a Força Aérea, tendo a Base Aérea n.º 1 como fiel depositária do património histórico e legado das tradições aeronáuticas da Aviação Militar/Força Aérea Portuguesa em Sintra, bem como a Academia da Força Aérea e o Museu do Ar. Como um espaço aeronáutico celebrado que continua a moldar o espírito de missão das novas gerações, sustenta e promove tudo o que une e distingue, assegurando um valor transcendental que pode ser transportado para o futuro.
(Texto retirado da pagela da emissão filatélica)