O primeiro número da revista Seara Nova foi publicado no dia 15 de Outubro de 1921, numa época conturbada, em que pontuavam enormes desigualdades sociais, consideráveis atrasos económicos, interesses inconfessáveis das clientelas e de oligarquias plutocráticas, baixo nível cultural da população, ausência de valores e de preocupações éticas nas camadas dominantes, regime político de mentira e incompetência, alastramento da corrupção entre os detentores dos poderes e privilégios escandalosos destes últimos. Os fundadores da Seara Nova – Aquilino Ribeiro, Augusto Casimiro, Azeredo Perdigão, Câmara Reys, Faria de Vasconcelos, Ferreira de Macedo, Francisco António Correia, Jaime Cortesão, Raul Brandão e Raul Proença – opunham-se ao que designavam de «desastre colectivo» e pugnavam pelos valores da inteligência, da cultura, da ética, da justiça e do progresso. Ao longo destes 100 anos de existência, pelas páginas da Seara Nova passaram muitos colaboradores frequentes, assinando páginas de grande qualidade, como Adolfo Casais Monteiro, Agostinho da Silva, Alberto Vilaça, Alexandre Cabral, Alves Redol, Armando Castro, Augusto Abelaira, Bento de Jesus Caraça, Blasco Hugo Fernandes, Fernando Lopes-Graça, Fernando Namora, Francine Benoît, Francisco Pereira de Moura, Gago Coutinho, Gilberto Lindim Ramos, Hernâni Cidade, Irene Lisboa, Rodrigues Miguéis, José Saramago, José Gomes Ferreira, Magalhães Godinho, Magalhães-Vilhena, Manuel Mendes, Manuel Machado da Luz, Mário de Azevedo Gomes, Mário Sacramento, Mário Sottomayor Cardia, Mário Ventura, Jorge Peixinho, Jorge de Sena, Rogério Fernandes, Rui Grácio, Sarmento de Beires, ou Vitorino Nemésio – intelectuais de grande valor e carácter, cuja moral está espelhada nesta frase do editorial do primeiro número da revista: «Em democracia quem mente ao povo é réu de alta traição». Esse mesmo editorial terminava com a aspiração de que ainda hoje a Seara Nova comunga: «Possam os homens de boas intenções de todas as Pátrias erguer um dia, sobre um mundo que ainda hoje se debate em miseráveis disputas nacionalistas, o arco-de-aliança duma humanidade justa e livre, realizando na paz vitoriosa as conquistas da inteligência e da vontade desinteressada!». A Seara Nova foi sempre um espaço de diálogo, de abertura às ideias do progresso, de rigor ético, de investigação e de divulgação cultural, criando esse fenómeno ímpar que se tem designado por «espírito seareiro».
Texto retirado da pagela dos CTT
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