Fundado em 1153 pelo primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques, e derradeira fundação da Ordem de Cister em vida de São Bernardo de Claraval, o Mosteiro de Alcobaça é um dos mais completos e mais bem preservados conjuntos arquitetónicos cistercienses subsistentes em toda a Europa. Detentora de um vasto território com cerca de 440 km 2 (os famosos Coutos alcobacenses) e protegida pela monarquia portuguesa ao longo dos séculos, a «Real Abadia» de Alcobaça tornou-se locus sepulcral dos reis D. Afonso II e D. Afonso III, e das rainhas D.ª Urraca e D.ª Beatriz, bem como do Rei D. Pedro I e de D.ª Inês de Castro, cuja trágica estória se imortalizou nos seus magníficos túmulos. O Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça foi construído entre os séculos xii e xv, conforme o projeto da sua abadia mãe, Claraval. Na sequência da criação da Congregação Autónoma de Portugal (1567), momento em que se torna a «cabeça» dos cistercienses portugueses, e em virtude de novas necessidades espácio-funcionais e critérios estéticos, o mosteiro sofre significativas ampliações arquitetónicas (séculos XVI a XVIII), destacando-se a construção do Paço Abacial e Hospedaria, da Cozinha, da Sala dos Reis, do Claustro do Cardeal, da Capela Relicário e da Capela do Desterro, obra-prima do Barroco português. Particular referência merece a reformulação da fachada (símbolo do poder da novel congregação), que ostenta esculturas em mármore de Carrara, italianas, representando Santa Maria, São Bento e São Bernardo. Após a extinção das ordens religiosas em Portugal (1834), o mosteiro integrou os bens da Coroa e, desde então, é propriedade do Estado português, sendo tutelado pelo Ministério da Cultura, através da Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E. Durante a 2.ª metade do século XIX e inícios do século XX sofreu vicissitudes várias, mas manteve intacta a sua unidade e integridade, tendo sido alvo de uma campanha de restauro em «Unidade de Estilo» (meados do século XX), protagonizada pela extinta DGEMN, a qual lhe «devolveu» a sua imagem original. Em 1989, o Mosteiro de Alcobaça foi inscrito na Lista do Património Mundial da Humanidade da UNESCO, por ter sido considerado uma Obra-prima do Génio Criador Humano (critério I), pela arquitetura da igreja, exemplo perfeito da estética cisterciense e da espiritualidade de São Bernardo de Claraval, e pelos túmulos de D. Pedro I e de D.ª Inês de Castro, expoentes máximos da escultura tumular em Portugal, e (critério IV) por ser um exemplo absolutamente extraordinário de um grande estabelecimento medieval, preservando a maior parte dos lugares regulares primitivos e edifícios posteriores, bem como um engenhoso sistema hidráulico. Durante os seus mais de 700 anos de existência, a Abadia de Alcobaça foi um dos mais florescentes centros europeus de produção e irradiação de Cultura: embora respeitando a Unidade do «Mundo cisterciense», os monges alcobacenses desenvolveram uma Identidade própria, de que é expressão máxima a sua arquitetura, nomeadamente, na adoção de soluções construtivas únicas na Europa coeva (como as três naves da igreja à mesma altura), e os manuscritos produzidos no seu Scriptorium, conservados na Biblioteca Nacional de Portugal. Hoje, mantendo o Espírito do lugar e a sua vocação cultural, o Mosteiro de Alcobaça atrai visitantes de todo o mundo, assumindo-se como um palco para a celebração da diversidade cultural e um lugar de diálogo para a Paz. Preservar e comunicar o seu Valor Universal Excecional, no presente e para o futuro, constitui a nossa missão.
Ana Pagará (Diretora do Mosteiro de Alcobaça.)
Texto retirado: Pagela Anunciadora de emissão Mosterio de Alcobaça - 2024
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